Os líderes sindicais da Argentina disseram que estão prestando muita atenção no discurso do presidente eleito libertário Javier Milei - e que o que ouvem é contrário aos seus interesses. “Temos claramente como ideia central o desenvolvimento do país, com produção e criação de empregos, e parece que todas as afirmações de Milei sobre cortes na economia, sobre privatizações e outras coisas não vão por esse caminho”, afirmou Héctor Caro, secretário-geral da poderosa organização guarda-chuva da Confederação Geral do Trabalho (CGT), após uma reunião com líderes sindicais.
A oposição mais enfática até agora aos planos de privatização de Milei veio do chefe da Associação de Pilotos de Linha Aérea, Pablo Biró, que disse nessa quarta-feira (22) que Milei “terá que literalmente nos matar” para levar a cabo seu plano de mudar a estrutura de propriedade da companhia aérea estatal Aerolíneas Argentinas.
A maioria dos líderes sindicais, no entanto, enfatizou uma atitude de esperar para ver, dizendo que estão em alerta, mas reconhecem que os argentinos votaram em Milei e esperarão ele implementar políticas. Alguns, no entanto, deixaram claro que a resistência já começou.
“Mal podemos esperar para ver se este homem terá sucesso”, disse Daniel Catalano, secretário-geral da Associação dos Trabalhadores do Estado, durante a marcha das Mães da Praça de Maio nesta quinta-feira (23). “Não esperamos absolutamente nada de Javier Milei.”
Catalano foi um dos representantes de sindicatos e organizações sociais que se uniram às Mães da Praça de Maio em sua marcha semanal no centro de Buenos Aires. O evento do grupo de direitos humanos formado por mães de crianças desaparecidas durante a ditadura militar argentina (1976-1983) assumiu um tom diferente desta vez. Grupos apelaram aos apoiadores para se juntarem às mães para representar simbolicamente a oposição ao governo de Milei.
Direitos humanos
Há também preocupação entre as organizações de direitos humanos sobre um potencial retrocesso nas políticas que permitiram a acusação de autores de crimes contra a humanidade durante a ditadura. Líderes de organizações sociais de esquerda também realizaram uma reunião na quinta-feira para discutir a sua resposta às políticas de Milei e “um plano de luta contra a austeridade” que envolverá protestos de rua.